Ter
problemas com os estudos na infância e na adolescência é normal, principalmente
quando a matéria é Matemática. Mas há um limite entre não gostar da disciplina
e ter um bloqueio para aprendê-la. Quando isso acontece, o aluno pode ter
discalculia, transtorno de aprendizagem específico da Matemática.
De origem
neurobiológica, o problema pode gerar quadros de ansiedade e gerar problemas no
convívio social.
— Às vezes,
a dificuldade se disfarça de rebeldia ou preguiça, mas por trás desse
comportamento há uma dificuldade real de lidar com números e operações —
explica Viviani Zumpano, neuropsicopedagoga da NeuroKinder.
Ela comenta
que os estudos sobre o assunto ainda são muito recentes, mas indicam que o
problema atinge de 3% a 6% dos estudantes.
— Como não
se consegue ver, é de difícil diagnóstico, mas pais e professores precisam ter
um olhar atento e uma escuta ativa para os sinais — observa a especialista.
A estudante
Ana Clara Barboza não tem o diagnóstico fechado, mas convive há quatro anos com
a dificuldade de acessar a memória e resgatar o que foi passado em aulas.
— Tenho que
passar muito mais tempo estudando do que uma pessoa normal e, quando chego na prova,
dá branco. Me sinto impotente — conta a menina de 15 anos.
O contexto escolar
Para
Marilene Proença, presidente da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e
Educacional (ABRAPEE), qualquer dificuldade vivida por estudantes traz
consequências para a representação que ele passa a ter sobre si mesmo, suas
capacidades e futuro.
— A
escolarização malsucedida acarreta um peso sobre a formação do indivíduo — afirma
a professora da Universidade de São Paulo.
Ela lembra
que, até o momento, a discalculia ainda é um tema em discussão entre
especialistas e que é preciso cuidado para não generalizar.
Para ela, o
acompanhamento de estudantes com alguma dificuldade só tem resultado se ele for
compreendido como um todo, sem “patologizar” sua forma de ver o mundo.
— Esse, para
nós, é o caminho do tratamento. Só faz sentido quando entendemos como a criança
ou adolescente aprende, qual o seu contexto e história de escolarização, que
práticas de ensino foram e estão sendo aplicadas a esse estudante — observa
Marilene Proença.
No
desenvolvimento escolar, há ainda a participação da família como peça-chave.
Segundo a neuropsicopedagoga Viviani Zumpano, além da tolerância às dificuldades
que os filhos possam ter na matemática, o acompanhamento nas tarefas escolares
é essencial.
— Todo mundo
na casa tem que estar comprometido com o processo de aprendizado da criança
—conclui.
Depoimento — Ana
Clara Barboza, 15 anos
‘Eu travo com exatas,
com cálculos básicos’
Eu gosto
muito de estudar, mas quando fala de Matemática, o coração até bate mais
rápido. Essa dificuldade começou a ficar pesada no sexto ano. Hoje, só cheguei
ao primeiro ano sem dependência com ajuda de professora particular. Sem ela,
fico perdida. Eu travo com exatas, com cálculos básicos, tabuada me confunde.
Fazer conta, às vezes, é difícil. Acho o cúmulo todo mundo, sem precisar ser um
gênio, conseguir fazer as contas e eu não. Eu esqueço muito rápido. Fico triste
porque estudo muito, faço a prova com calma e, mesmo assim, tiro nota baixa.
Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/saude-e-ciencia/transtorno-de-aprendizado-de-matematica-atinge-nao-so-criancas-mas-adultos-tambem-21114859.html#ixzz4dDIzbk5x
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