De tempos em tempos, o calendário tem um dia a mais: o 29 de
fevereiro. Esses anos mais longos são chamados bissextos. Por que isso
acontece?
O calendário que usamos (gregoriano), de 365
dias de 24 horas, tem uma pequena diferença em relação ao tempo que a Terra
leva para contornar o sol. O ciclo solar, ou ano trópico, é definido como o
intervalo entre o início de duas primaveras consecutivas no hemisfério Norte –
indicando um ciclo completo da Terra em torno do sol. Esse período é de 365
dias e aproximadamente 6 horas (na verdade, são 5 horas, 48 minutos, 45
segundos e 216 milésimos de segundo).
A cada 4 anos, a diferença de horas entre o ano
solar e o do calendário convencional completa cerca de 24 horas (mais exatamente: 23 horas, 15 minutos e 864 milésimos de segundo).
Para compensar essa diferença e evitar um descompasso em relação às estações
do ano, insere-se um dia extra na folhinha e fevereiro fica
com 29 dias. Essa correção é especialmente importante para atividades
atreladas às estações, como a agricultura e até mesmo as festas religiosas.
Como surgiu o ano bissexto?
A descoberta da necessidade dos anos bissextos
aconteceu há muito tempo. “Há notícias de dias acrescentados no calendário com
esse objetivo desde 324 a.C.”, conta Roberto Boczko, professor de astronomia do
Instituto de Astronomia e Geologia (IAG) da Universidade de São Paulo (USP).
Os homens inventaram os primeiros calendários para
conseguir se planejar em relação às estações, por causa da agricultura (a
maioria das plantas completa seu ciclo nesse período) e das dificuldades
climáticas (como invernos rigorosos). Apesar das inúmeras tentativas,
descobriu-se que é muito difícil estabelecer um calendário que tenha total
harmonia com o ciclo solar.
As diversas tentativas de equiparar os
calendários ao ano trópico eram desordenadas e faziam com que alguns
anos fosse muito maiores que outros. Em 46 a.C., havia uma defasagem de 90 dias
entre o calendário da época e o início da primavera. Naquele ano, as festas
romanas em comemoração à estação mais florida do ano, marcadas para março (que
era o primeiro mês do ano), caíram em pleno inverno.
O então imperador romano Júlio César resolveu
acertar o relógio. Para resolver os atrasos anteriores, ele esticou aquele ano
para 445 dias. A partir dali, instituiu a regra de intercalar, periodicamente,
um ano com 1 dia a mais, por sugestão do astrônomo Sofígenes. Ficou
combinado que, depois de 3 anos de 365 dias, viria um de 366 dias.
Mas, por confusão ou dificuldade, a regra foi
cumprida de maneira diferente: os anos bissextos aconteciam depois de dois anos
comuns (um ciclo de apenas 3 anos, e não 4, como quis Júlio César). O erro foi
percebido em 10 a.C. e, para compensar, os anos bissextos foram suspensos até 8
d.C. A partir daí, o imperador César Augusto fez com que a regra de
Júlio César fosse seguida sistematicamente: três anos comuns, um ano bissexto.
Durante séculos a solução juliana resolveu o problema. Mas, no longo prazo, ela
mostrou que não era suficiente para garantir a sincronia entre ano solar e
calendário e demandou uma nova mudança.
Em 325 d.C., a Igreja Católica decidiu que o
início da primavera deveria cair no dia 21 de março, para que combinasse com
suas comemorações religiosas. Em 1582, esse dia caiu 10 dias depois do
início da estação. O papa Gregório 13 resolveu a questão fazendo com
que, em outubro, a contagem de dias pulasse 10 dias. As pessoas foram dormir na
quinta-feira dia 4 e acordaram na sexta-feira no dia 15. Além desse acerto
forçado (que fez com que a primavera começasse no dia 21 de março do ano
seguinte, como a Igreja queria), Gregório 13 propôs um cálculo mais
complexo, porém, mais certeiro para os anos bissextos.
Aceitando a sugestão do matemático Cristhovan
Clavius, Gregório 13 decidiu que o cálculo passaria a ser o seguinte:
continua a valer a regra de um bissexto a cada quatro anos, exceto para os
anos que terminam em zero duplo (00). Estes só seriam bissextos uma vez a
cada 400 anos.
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