Uma equipe de cientistas britânicos mostrou que as zonas que se activam no cérebro de um matemático quando ele acha que uma fórmula é bela são as mesmas que se activam quando qualquer um de nós acha belos um quadro ou uma peça musical. Os seus resultados, que foram publicados na revistaFrontiers in Human Neuroscience, sugerem, segundo os autores, que existe uma base neurológica da beleza.
A
equipa liderada por Semir Zeki, neurocientista do University College de Londres
(UCL), decidiu visualizar, através da técnica de ressonância magnética
funcional, as áreas cerebrais que se activavam no cérebro de 15 matemáticos
enquanto olhavam para diversas expressões matemáticas.
Zeki
já era conhecido mundialmente pelas suas pesquisas sobre a organização das
áreas visuais do cérebro, tendo demonstrado, em particular, que é o cérebro
humano que constrói as cores que vemos. Mas, mais recentemente, este
investigador também se tem interessado pela neuroestética – ou seja, pelo
estudo das relações entre actividade cerebral e as experiências estéticas e a
criatividade artística, lê-se na sua página na
Web.
“Para
muitos de nós, as fórmulas matemáticas parecem áridas e inacessíveis, mas para
os matemáticos uma equação pode encarnar a quintessência da beleza”, diz Zeki,
citado num comunicado do UCL. “A beleza de uma fórmula pode resultar da sua
simplicidade, simetria, elegância ou do facto que exprime uma verdade imutável.
Para Platão, o carácter abstracto da matemática representava o pináculo da
beleza.” E prossegue: “Nesse sentido, era interessante saber se uma
experiência da beleza derivada de uma fonte tão abstracta e intelectual como a
matemática estaria relacionada com uma actividade neuronal nas mesmas áreas do
cérebro emocional que respondem a fontes estéticas mais sensoriais,
baseadas na percepção.”
Os
15 matemáticos que participaram no estudo começaram
por receber um conjunto de 60 fórmulas matemáticas e tinham 15 dias para
as julgar como feias, indiferentes ou belas, comunicando essas suas conclusões
aos cientistas. No fim desse período, os mesmos matemáticos tornaram a olhar
para as mesmas fórmulas enquanto a equipa monitorizava visualmente a sua
actividade cerebral. O resultado é que as áreas do cérebro activadas pela
beleza associada à matemática são as mesmas que as são activadas pela experiência
estética associada à arte ou à música.
“Constatámos
que, tal como acontece com uma experiência estética visual ou musical, a
actividade cerebral está fortemente associada à intensidade da experiência
estética declarada pelos participantes” face a cada fórmula, salienta ainda
Zeki – “e isso apesar de a fonte de beleza ser aqui extremamente
abstracta”. Para o investigador, os resultados respondem a uma
questão-chave dos estudos de estética, debatida desde os tempos clássicos, ao
mostrar que as experiências estéticas podem, de facto, ser quantificadas.
Já
agora, uma das fórmulas que foram sistematicamente julgadas como belas pelos
participantes, tanto antes da experiência como durante a sessão de ressonância
magnética funcional, foi a chamada fórmula de Euler, que ilustra este texto.
Esta fórmula já foi, aliás, escolhida, em concursos organizados por revistas
especializadas, como sendo a mais bela de todas.
Fonte: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/os-mesmos-centros-cerebrais-servem-para-sentir-a-beleza-de-uma-equacao-ou-uma-obra-de-arte-1623723

Nenhum comentário:
Postar um comentário